A explosão da soja e do algodão baiano

2-7-2011, PORTAL DO AGRONEGÓCIO

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O quadro é completamente diferente daquele que é possível encontrar no Recôncavo, nas terras ao sul do Estado ou mesmo no vale do sub-médio do São Francisco. Grandes áreas planas de cerrado com bom índice pluviométrico favorecem um perfil diferenciado.

No lugar do cacau, da mandioca e da banana, muita soja, milho e algodão. Na gastronomia, o vatapá e a moqueca baiana dão lugar à picanha e ao churrasco típico sulista ou com toques pantaneiros. Na música, o axé é coisa distante. Quem manda são as duplas sertanejas. E para completar, coisa difícil na região é achar um baiano que plante e viva da agricultura no local.

“É coisa rara ver baiano cultivando algodão por aqui; a maioria dos agricultores veio dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Mato Grosso”, comenta o engenheiro agrônomo André Luiz Simon - ele mesmo um paranaense -,  representante da FMC Agricultural no sudoeste baiano e que dá assistência técnica a 23 diferentes produtores que somam perto de 55 mil hectares.

A realidade, portanto, é outra. E até mesmo desconhecida por muitos moradores da própria Capital baiana. A distância, com certeza, é  um dos motivos. São 871 km por rodovias ligando Salvador até Barreiras ou 960 km até Luiz Eduardo Magalhães, cidade também conhecida na região como LEM (iniciais do nome do falecido deputado federal, filho de Antonio Carlos Magalhães, que dá nome ao município). A viagem, em ônibus, demora entre 13 e 15 horas.

A região é servida apenas por dois vôos diários através da empresa Passaredo. O primeiro sai de Brasília às 9h29min e chega ao tímido aeroporto de Barreiras às 10h25min. Outro deixa Guarulhos, SP, às 13 horas com chegada prevista para as 17h58min. Há um movimento para que um novo aeroporto seja construído em LEM uma vez que o existente é localizado em região alta (Barreiras fica em um vale), constantemente afetada por nevoeiros, o que provoca seu fechamento constante.

Diferenciado

O desempenho do agronegócio na região, que vem crescendo muito ao longo dos últimos cinco anos, chegou a provocar euforia na atual safra (2010/2011) em função de duas commodities: soja e algodão – com o milho correndo por fora. Apenas o Mato Grosso supera em resultados o oeste baiano no que se refere ao algodão, por exemplo, a principal vedete da atual safra, que atingiu o seu maior preço de mercado dos últimos 140 anos: entre R$ 125,00 e R$ 130,00 a arroba na primeira semana de abril – para entrega somente a partir de julho, quando começa a colheita.

A cotonicultura na região é extremamente tecnificada e, como no Centro-Oeste, apresentou um salto enorme em área e produção. A Bahia pulou de 260,8 mil hectares plantados na safra passada para 392,5 mil hectares no atual ciclo, um acréscimo superior a 50%. De acordo com previsões da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab) a produção, que em 2009/2010 somou 406,8 mil toneladas, pode atingir 601,6 mil toneladas na safra 2010/2011.

A soja é outro destaque na região. Diferente dos tradicionais produtores, a colheita da leguminosa começa na Bahia quando está terminando no Centro-Oeste e no Sul: em final de março e início de abril. Na safra baiana de 2009/2010 foram 1.016.000 hectares plantados para uma produção de 3,11 milhões de toneladas. Para o ciclo 2010/2011, a Conab calculou (previsão feita em março) uma área plantada de 1.023.600 hectares, mas no início de abril a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) anunciou 1.060.00 ha plantados para uma produção prevista de 3,2 milhões de toneladas de soja no Estado.

Com um clima diferente de outras regiões agrícolas, o oeste baiano não trabalha safrinhas de sequeiro como o Sul e o Centro-Oeste brasileiros. Por isso os agricultores tiveram de se tecnificar para produzir praticamente o ano todo. Boa parte investe em culturas irrigadas. Circulando pelo Anel da Soja (*), em São Desidério ou mesmo mais ao sul, próximo à divisa com Goiás, não é difícil encontrar inúmeros pivôs, cada um irrigando áreas geralmente entre 50 a 100 hectares.

De acordo com informações do Governo da Bahia, atualmente o agronegócio representa 24% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, gerando 30% de todos os empregos e detendo a fatia de 37% das exportações.

Investimentos estrangeiros

O oeste baiano pulsa agronegócio. As principais empresas multinacionais de insumos agrícolas, máquinas e implementos, disputam o mercado palmo a palmo. Profissionais como agrônomos e técnicos agrícolas chegam de todos os lugares do Brasil. Muitas fazendas são administradas por grupos nacionais e internacionais. Uma das mais fortes é a Agrícola Xingu S/A, subsidiária da Multigrain, empresa que tem como um dos sócios a japonesa Mitsui. O grupo detém a Fazenda Tabuleiro, de 82 mil hectares no município de São Desidério, e cultiva soja e algodão.

Além de algodão irrigado por 28 pivôs a fazenda ainda trabalha com uma experiência de produção de soja fora de época. “É uma espécie de segunda safra, plantada em fevereiro e colhida entre junho e julho; depois entra milho e em outubro volta a soja”, explica o agrônomo Simon.

O investimento estrangeiro é cada vez maior. Em março deste ano o grupo chinês Chong Qing Grain Group Corporation Limited Liability Company, anunciou que desembolsará R$ 4 bilhões para a construção de uma estrutura de esmagamento de grão e refino de soja em Barreiras. Parte do dinheiro também será alocada em estrutura portuária. De acordo com o Governo do Estado, o grupo ainda estaria aberto para o financiamento da produção dos agricultores além de dar garantia de comercialização.

Em visita à Bahia, diretores da empresa chinesa explicaram que o projeto envolve o processamento (beneficiamento) de alimentos, armazenamento de grãos e logística. As previsões são de que a unidade de Barreiras tenha capacidade inicial/ano para esmagar 1,5 milhão de toneladas de soja, refinar 300 mil toneladas de óleo e armazenar 400 mil toneladas de grãos.

No início de abril, uma delegação baiana desembarcou na China - aproveitando a visita da presidente Dilma Rousseff à Ásia - para dar encaminhamento a este e a outros investimentos estrangeiros. Enquanto isso, o embaixador da Nova Zelândia no Brasil, Mark Trainor, mantinha contatos com o Governo da Bahia anunciando o interesse de seu país em investir em carne, grãos e leite no oeste baiano.

Pecuária intensiva

Com alta disponibilidade de grãos e tecnologia agregada, o oeste baiano pavimentou caminho para receber investimentos em suinocultura, avicultura e também na pecuária de corte. Um exemplo é a iniciativa da empresa Captar Agrobusiness, que está implantando um complexo de produção pecuária intensiva em Luiz Eduardo Magalhães.

Em 200 hectares estão sendo construídas uma fábrica de adubo orgânico, uma fábrica de ração e uma estrutura de confinamento com capacidade inicial para 12,5 mil cabeças. O projeto prevê um cronograma de expansão para os próximos dois anos: 25 mil animais até final de 2011, 50 mil até 2012 e 70 mil até 2013.

Das culturas de milho e soja da região, a empresa pretende usar seus resíduos para o preparo de ração. A casca de algodão também seria aproveitada neste sentido. Toda a estrutura está em fase final de construção para inauguração ainda este ano. Só em silos são dois com capacidade para 75 mil sacas de grãos e mais três para até 210 mil sacas.

(*) Região com área superior a 350 mil hectares englobando parte dos municípios baianos de Barreiras, LEM, Formosa do Rio Negro e Riachão das Neves, servida por estradas estaduais e federais que auxiliam no escoamento da produção. A expressão também costuma designar a rodovia BA-458.

Luiz Eduardo é espelho da região

A história do município de Luiz Eduardo Magalhães (LEM) é contemporânea do grande salto do agronegócio brasileiro nas duas últimas décadas. A região era apenas uma vila de apoio a um posto de combustíveis no entroncamento entre a BR 020 e BR 242 no início dos anos 80 do século passado. O lugarejo foi denominado “Mimoso do Oeste” na condição de distrito de Barreiras. Em março de 2000 tornou-se município com pouco mais de 18 mil habitantes e 10 anos depois já registrava uma população superior a 60 mil pessoas (IBGE/2010), um crescimento de 220% em uma década.

Com um alto PIB per capita de R$ 31.422,34 (IBGE/2008), a cidade respira agronegócio e é o espelho do significado da atividade para o oeste da Bahia. Sua região é responsável por 60% da produção de grãos do Estado. A área urbana vem crescendo ao redor de unidades agroindustriais e não faltam problemas de infraestrutura, como deficiência em saneamento e pavimentação. Em 2010 foi o 4º maior exportador da Bahia com destaque para a soja e algodão.

Quem visita a cidade anualmente nota diferenças a cada viagem, como a instalação de novas indústrias processadoras de grãos, armazéns e comércio cada vez mais amplo. Com 11 anos de vida, LEM conta com faculdade, spas, churrascarias, agências de turismo, supermercados, rede de empresas imobiliárias e bons hotéis. Um deles é referência na região e homenageia a cidade de Saint Louis, um dos portais agrícolas dos Estados Unidos. Criado há sete anos, é o ambiente preferido para reuniões de negócios entre investidores norte-americanos, chineses e coreanos com autoridades e produtores baianos.

Um dos pontos críticos de LEM é o trânsito estrangulado em seu miolo, justamente pelo fato da BR 242 (que liga o leste ao oeste da Bahia) dividir a cidade ao meio. Em época de escoamento de safra são caminhões, carretas, bitrens, carros de passeio, utilitários e ônibus circulando em impressionante volume. Sem passarelas para pedestres, atravessar de um lado para o outro da cidade é, invariavelmente, uma arriscada aventura para os pedestres.

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