Banco Mundial prepara-se para financiar um dos maiores acaparadores de terras da América Latina

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“Num momento em que os movimentos sociais latino-americanos demandam a interrupção do acaparamento de terra, e onde muitos governos da região já estão implementando medidas restritivas à aquisição de terras por estrangeiros, é escandaloso que uma instituição multilateral como o Banco Mundial dê apoio direto a um dos maiores acaparadores de terras.“

(Sempre lembrando que a questão não é meramente xenofóbica, mas política: o que está em questão não é o “ódio” aos estrangeiros mas  o modelo de desenvolvimento agrário – que acaba, sim, por implicar em estrangeiros, já que possuidores do capital e da tecnologia – , concentrador de renda, concentrador de terras, inchador de populações urbanas, além, é claro, dos fatores ambientais inerentes à forma de maximização produtiva a que recorrem os praticantes desse modelo, por via do intenso uso de pesticidas e plantas geneticamente modificadas)

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GRAIN | 7.6.2011 | English | Español

O Banco Mundial prepara-se para injetar 30 milhões de dólares num fundo que compra terra arável na América Latina em nome de algumas das pessoas mais ricas do mundo. O comitê da Corporação Financeira Internacional (IFC), o ramo do setor privado do Grupo Banco Mundial, já tem agendada uma reunião para o dia 10 de Junho próximo, para decidir a oferta de um empréstimo  que permitirá à Calyx Agro Ltda expandir significativamente as suas aquisições de terra no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

A Calyx Agro foi criada na Argentina pela Louis Dreyfus Commodities em 2007 como meio de viabilizar aquisições de terra arável na América do Sul. A Louis Dreyfus Commodities pertence à família Louis-Dreyfus, em França, e é uma das maiores empresas de comércio de commodities agrícolas.

Em 2008, Louis Dreyfus abriu o fundo a outros investidores. Um dos primeiros grandes players a ser associado foi a AIG Investments, que entrou com 65 milhões de dólares no Calyx Agro, naquele ano. Na época a AIG Investments era o braço responsável pela gestão de ativos da American International Group (AIG). Mas quando a AIG quase quebrou como resultado do envolvimento no escândalo dos sub-primes estadunidense, a empresa foi forçada a vender o seu setor de investimentos para o Pacific Century Group, do bilionário de Hong Kong Richard Li. A AIG Investments mudou o nome para PineBridge Investments em 2010, mas o seu envolvimento na Calyx Agro foi mantido.

De acordo com um relatório de 2008 do Conselho Administrativo de Defesa Econômica do governo brasileiro (que também pode ser visto aqui), os outros grandes investidores da Calyx Agro são:

- O TRG Management, um fundo hedge operado pelo Rohatyn Group, fundado por ex-banqueiros do JP Morgan & Co em 2003 com o objetivo de investir em mercados emergentes;

- A Worldstar Ltd, uma subsidiária da Said Holdings, uma empresa de investimentos incorporada em Bermudas, e que pertence a Wafic Saïd, um empresário sírio-saudita que vive entre Mônaco e Paris e que é amigo próximo da Família Real Saudita;

- O Pictet Private Equity Investors, uma empresa de investimentos com base na Suíça; e

- a Solvia Investment Management, um veículo de investimentos para o fundo de investimentos Oslow Capital Management, com base em Londres.

Segundo documentos da organização, há indícios de que a IFC considera oferecer à Calyx Agro um empréstimo de até 30 milhões de dólares. Mas o significado do envolvimento da IFC nesse negócio vai bem além da quantia envolvida. A IFC diz que “será o primeiro órgão financiador a oferecer à Calyx um financiamento a longo prazo, sem o qual a empresa teria que reduzir os seus planos de expansão”, e reconhece que o seu “Selo de Aprovação” ajudará a Calyx Agro se ela pretender uma oferta pública inicial numa bolsa de valores.

A avaliação social e ambiental da Calyx Agro pode ser vista no site da IFC. O empréstimo da IFC é condicionado pelo desenvolvimento e implantação de um processo de avaliação social e ambiental para as operações da Calyx, que deverá cobrir questões como condições de trabalho, controle de poluição e envolvimento com a comunidade. Nenhuma das medidas delineada pela IFC, entretanto, terá impacto significativo no modelo básico de operações da Calyx, que é o de utilizar empresas sub-contratadas para transformar as terras que ela adquire em grandes latifúndios industriais de soja, açúcar e milho voltados para exportação. Os impactos devastadores que esse modelo agrário produz na sociedade e no ambiente na América Latina estão bem documentados.

Se o empréstimo do Banco Mundial, via o seu braço privado IFC, for aprovado, fornecerá mais um exemplo do papel-chave do Banco Mundial no apoio ao acaparamento global de terras. Este empréstimo à Calyx Agro, uma empresa com a missão de construir largos domínios de terra arável na América Latina para investidores estrangeiros ricos, facilitará a expansão em larga escala de fundos de aquisição de terra. Num momento em que os movimentos sociais latino-americanos demandam a interrupção do acaparamento de terra, e onde muitos governos da região já estão implementando medidas restritivas à aquisição de terras por estrangeiros, é escandaloso que uma instituição multilateral como o Banco Mundial dê apoio direto a um dos maiores acaparadores de terras.

Traduzido por Gustavo Lapido Loureiro

Fonte: http://farmlandgrab.org/post/view/18736

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